Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A ativista indígena, Vanda Witoto, afirmou que a falta de entendimento de Rodriguinho evidencia a ausência de conhecimento sobre a diversidade dos povos indígenas e suas línguas no Brasil. A declaração ocorreu em entrevista exclusiva ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, nesta sexta-feira, 12/1, após a amazonense Isabelle Nogueira ser chamada de “índia” pelo pagodeiro, no BBB 24.
“O que o Rodriguinho apresenta é o reflexo dessa sociedade. Ele é um exímio brasileiro que desconhece a total realidade da presença dos povos indígenas, não sabe que no Brasil, nós somos 305 povos, não sabe que temos 274 línguas faladas. Há um desconhecimento muito grande da realidade da presença indígena”, revelou.
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A postura e a coerência de Isabelle também foi elogiada por Vanda Witoto, que enfatizou o cuidado da cunhã-poranga do Garantido em não se reconhecer indígena, mas uma “originária em retomada”. Witoto destacou a importância da reconexão dos originários com as raízes indígenas, abordando a violência histórica da colonização na Amazônia.
“No primeiro momento, quando perguntaram se ela era ‘índia’, Isabelle reconheceu que não tinha a vivência de ter nascido em uma aldeia. E o ponto é: nós, amazônidas, que viemos desse processo de colonização, onde nossas ancestrais foram forçadas a esquecerem a sua própria história e identidade, com a imposição a uma nova cultura, tudo isso fez com que a nossa própria geração não se reconheça indígena”, disse.
“Então, a postura de Isabelle tem sido muito coerente de não se afirmar indígena, mas de estar em reconexão e retomada com suas ancestralidades. Muitos de nós estamos nesse processo hoje, por causa de toda essa história de apagamento. E a família dela também passou por isso, porque suas avós vêm de territórios indígenas, como ela mesma menciona”, esclareceu.
Educação sobre cultura indígena
Segundo Witoto, ao trazer à tona questões sobre a diversidade cultural e fenotípica dos povos originários, Isabelle enfatiza a importância de uma educação sobre a cultura indígena para o combate à violência e o apagamento histórico.
“Nosso país tem uma dívida histórica com os povos indígenas. A violência colonial e o apagamento de nossa história persiste de outras formas. Quando, por exemplo, dizem que por estarmos na cidade ou fazermos uso de celular, não somos mais indígenas. E é importante que a gente fale sobre isso”, enfatizou.
Segundo a ativista indígena, sendo voz da Amazônia, Isabelle, uma mulher originária, traz questões que são muito importantes, como a demarcação de quem é indígena hoje (fenótipo), tema que tem sido um grande problema. “Nossa cultura não é estática. Temos vários rostos, cabelos, tons de pele enquanto povos indígenas”.
A difusão de tudo que envolve os povos originários, ela explica, precisa ser feita e prestará um grande serviço à sociedade. “A voz de Isabelle é potente. Nossos ancestrais podem usá-la para difundir mais sobre a nossa cultura indígena, nortista, amazônida”.
Conhecer para desconstruir
Para Witoto, o episódio do BBB 24 é um catalisador para a desconstrução de conceitos pejorativos. Ela ressalta a falta de conhecimento sobre mudanças, como a abolição do “Dia do Índio” em 19 de abril, evidenciando a urgência em buscar os termos corretos.
“Houve várias mudanças em conceitos criados pejorativamente que são destinados aos povos indígenas. Por exemplo, hoje não usam mais o termo ‘dia do índio’. Existe um projeto de lei que aboliu isso e as pessoas não sabem”, lembrou.
Ela se refere à Lei 14.402/22, que denomina o 19 de abril como Dia dos Povos Indígenas. A mudança do nome teve o objetivo de explicitar a diversidade das culturas dos povos originários. A nova lei é oriunda do Projeto de Lei 5466/19, da deputada Joenia Wapichana (Rede-RR).
“É importante que as pessoas busquem conhecer os termos corretos para diminuir esse preconceito, para diminuir essas violências que são impostas”, concluiu.