Júnior Almeida – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Localizada em um dos pontos mais antigos de Manaus, a Praça Dom Pedro II carrega cerca de mil anos de história e abriga sob suas estruturas de concreto um sítio arqueológico descoberto na década de 50 como um cemitério indígena pré-colonial.
No coração de Manaus, a praça que hoje se materializa como local de encontros, descanso e eventos, esconde um passado ancestral que remonta milhares de anos da história da Amazônia Central, onde povos originários viviam e foram sepultados na área.
Ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, o arqueólogo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jaime Oliveira, destaca a relevância das descobertas feitas na praça ainda em 1950, além das escavações feitas em 2003, na qual urnas funerárias foram achadas.
“Esse sítio arqueológico foi identificado inicialmente na década de 1950 pelo arqueólogo alemão Klaus Hilberte, mas foi em 2003, que escavações mais aprofundadas resgataram um conjunto de urnas funerárias. Parte desse acervo está no Museu da Ufam e outra no Musa. Essas urnas ajudam a compreender como os povos indígenas ocupavam o território muito antes da colonização.”
Jaime Oliveira, arqueólogo do Iphan



Durante a recente revitalização da praça, marcas com a cor preta foram inseridas no novo piso para simbolizar a presença dessas urnas, permitindo que a história indígena seja reconhecida e preservada no espaço urbano, que está localizado bem no Centro da capital amazonense.
Essas urnas funerárias, segundo Oliveira, eram feitas de argila misturada a materiais orgânicos, como cascas de árvores, a fim de aumentar sua durabilidade. Elas pertencem à chamada “Fase Paredão”, um período ceramista predominante na região naquela época.



“Esse sítio é importante, porque ele nos ajuda a conhecer um pouco mais sobre o modo de vida dos grupos pré-coloniais que habitavam a região, que é um período em que a gente não tinha toda essa documentação escrita. Então isso possibilita até de os historiadores entenderem mais como eles ocupavam o território“, pondera.
Contexto histórico e indígena
A REPORTAGEM também ouviu a historiadora indígena Izabel Cristine Munduruku, na qual a especialista destaca a importância dessas descobertas para a memória e identidade dos povos originários. A especialista também reforça que Manaus sempre será um território indígena com raízes marcadas.
“A História colonizadora narra nossa morte, nega nossa presença nesse território. Mas os achados arqueológicos são a materialidade da memória dos nossos ancestrais. O que mostra que Manaus é muito mais antiga do que se imagina, e existe antes mesmo do colonizador chamar de cidade.”
Izabel Munduruku, historiadora indígena
Segundo a historiadora, o reconhecimento arqueológico e a revitalização da praça, reafirmam a história dos povos originários e o legado vivo em Manaus dessas culturas. “A ciência indígena é uma ciência viva. Nossos territórios sempre foram grandes laboratórios, e o manejo da floresta que vemos hoje é fruto do conhecimento ancestral“, defende.
“É impossível a gente não afirmar que Manaus não é um território indígena quando você escava um determinado lugar e ali você encontra partes de uma memória que se materializa com as cerâmicas, com as urnas ou com os escritos, os petroglifos, que são encontrados nas pedras“, reafirma Izabel.