Júlio Gadelha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O impacto crescente das mudanças climáticas em Manaus, incluindo secas, enchentes extremas, incêndios e a recente fumaça que cobriu a cidade, torna o debate sobre o tema mais urgente do que nunca.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS consultou Rogério Fonseca, doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre pela UFMG e professor-pesquisador na Ufam, para avaliar as propostas dos planos de governo dos candidatos à prefeitura.
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Apesar da gravidade da situação, em pleno ano eleitoral, nos dois primeiros debates promovidos por grandes emissoras locais o tema não foi abordado e nenhuma proposta concreta foi apresentada à população.
Segundo Rogério Fonseca, “as propostas apresentadas são políticas, não técnicas, e não têm efeito prático na vida das pessoas”.
O candidato Alberto Neto (PL) propõe a despoluição dos igarapés, a criação de jardins de chuva e mini-florestas urbanas, além do fortalecimento da Defesa Civil. O professor da UFAM considera essa proposta mais clara, e ressalta que iniciativas como a transformação de resíduos sólidos em riqueza já são comuns em outros municípios e que a ideia dos jardins de chuva, apesar de promissora, carece de detalhes para ser considerada viável.
Amom Mandel (Cidadania) foca na qualidade do ar e sustentabilidade, propondo o monitoramento contínuo dos poluentes e a restauração ecológica dos igarapés. Fonseca critica a transferência de responsabilidades para a população, defendendo que o prefeito deve expandir a equipe técnica para realizar esses serviços. Ele também explica que a “restauração ecológica de um corpo hídrico não é nada simples que possa ser feito sem grandes recursos”.
David Almeida (Avante) destaca seu histórico de iniciativas como “Anjos da Floresta” e propõe a criação de ecobarreiras e o uso de ônibus elétricos. O professor da Ufam critica essas medidas como sendo mais voltadas para manter uma boa imagem pública do que para promover ações eficazes, sugerindo que o fortalecimento do quadro técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente seria uma medida mais concreta.
Rogério Fonseca destaca que uma das ações com efeito prático no ambiente urbano é o município gerir adequadamente os resíduos sólidos e o saneamento básico, e que ações superficiais ou com nomes bonitos não resultam em mudanças reais para a população.
Gilberto Vasconcelos (PSTU) prioriza a municipalização dos serviços de água e coleta de resíduos sólidos, mas não aborda as mudanças climáticas. O doutor em biologia ressaltou que a municipalização completa de licenciamento e fiscalização não seria viável devido às restrições legais e que a tributação sobre cooperativas de reciclagem, imposta pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, dificulta a eficácia dessas atividades.
Marcelo Ramos (PT) foca na recuperação de espaços verdes e educação ambiental, mas sem um foco específico nas mudanças climáticas. Fonseca considera suas propostas “requentadas” e enfatiza a necessidade de ações mais efetivas por parte do poder público.
Roberto Cidade (União) propõe a preservação de nascentes e igarapés, um plano de contingência para eventos climáticos extremos, e um programa de arborização. No entanto, Fonseca destaca que essas ações já são obrigações previstas pelo Código Florestal e critica a falta de detalhamento na implementação dessas medidas.
Já Wilker Barreto (Mobiliza) sugere arborização e revitalização dos igarapés, além de um aplicativo de limpeza urbana. Fonseca vê essas propostas como superficiais e comparáveis a ações simbólicas do Dia do Meio Ambiente. Mas considera o aplicativo como boa “fonte aberta de dados num sistema de gerenciamento de gestão à vista para toda a sociedade ver que foi feito aquele registro, que foi feita, aquela demanda para a prefeitura para ser atendido em curto prazo”.