Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O saneamento básico é uma questão fundamental para a saúde da população e a proteção do meio ambiente. Ele desempenha um papel crucial na prevenção de doenças e na melhoria da qualidade de vida, mas a confusão entre os sistemas de esgoto e drenagem ainda persiste entre muitos cidadãos, comprometendo a eficácia dessas estruturas essenciais.
De acordo com o Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a região Norte do Brasil apresentou a menor taxa de cobertura de saneamento, com apenas 22,8%. Embora a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico indique um avanço significativo — 62,5% da população brasileira residia em domicílios conectados à rede de coleta de esgoto até 2022, um aumento em relação a 44,4% em 2000 —, 49 milhões de pessoas, ou 24,3% da população, ainda dependiam de sistemas precários de esgotamento.
Bruno Perez, analista da pesquisa, aponta que a coleta de esgoto é o serviço mais desafiador dentro do saneamento, exigindo uma estrutura mais cara do que os demais serviços.
A situação é ainda mais crítica quando se observa que, apesar do avanço, a cobertura de esgoto no Brasil ainda é inferior à da distribuição de água e à coleta de lixo.
Em Manaus, a realidade é um reflexo dessa luta. A equipe do Portal RIOS DE NOTÍCIAS visitou a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Timbiras, onde o ciclo da água é monitorado e tratado após o descarte nas residências. Thiago Meireles, coordenador de Tratamento de Esgoto, destacou: “Atualmente, todo o esgoto coletado em Manaus é tratado com excelência. O grande desafio é a baixa cobertura, que chega a apenas 31%. Estamos empenhados em universalizar o serviço até 2033.”
Este panorama revela que, embora haja progresso, ainda há um longo caminho a percorrer. O acesso a um saneamento básico adequado é um direito fundamental e uma questão de dignidade, refletindo diretamente na saúde e no bem-estar de milhões de brasileiros.
A concessionária Águas de Manaus estabeleceu grandes metas, como: alcançar 80% de cobertura até 2030 e 90% até 2033, alinhando-se ao novo marco legal de saneamento.
Meireles enfatizou a importância da conscientização: “Estamos realizando um trabalho contínuo para que a população entenda as diferenças entre a rede de esgoto, que trata águas residuais, e a rede de drenagem, que escoa a água da chuva.”
Infelizmente, muitas casas ainda não estão interligadas à rede de esgoto, resultando em descarte inadequado nos igarapés, o que não apenas prejudica o meio ambiente, mas também causa desconforto à população. “O mau cheiro frequentemente decorre do esgoto lançado de forma imprópria na rede de drenagem”, explica.
Localizada na Cidade Nova, a ETE Timbiras atende toda a região da zona Norte de Manaus, que é a área mais populosa da capital. A Estação é responsável por receber, tratar e devolver o esgoto em forma de água livre de dejetos à natureza.
Qual a diferença?
É vital que a população compreenda as funções distintas dos sistemas de esgoto e drenagem. A rede de esgoto transporta águas residuais de banheiros, cozinhas e lavanderias para as estações de tratamento, onde passa por rigorosos processos antes de ser devolvida ao meio ambiente de forma segura.
Em contraste, a rede de drenagem tem a função de evitar alagamentos, escoando a água da chuva para rios e córregos. O acúmulo de lixo nas ruas e bueiros entope a drenagem, resultando em enchentes.
Apesar das 126 estações de tratamento em operação, muitos moradores ainda desconhecem sua existência e funcionamento.
A meta de 80% de cobertura até 2030 colocaria Manaus acima da média nacional de 46%. Contudo, Meireles alerta que a conscientização e a aceitação das obras são fundamentais para o progresso: “Precisamos que a população compreenda os benefícios da ligação ao esgoto, já que as intervenções em vias públicas podem causar transtornos.”
Cobertura e desafios
A topografia irregular de Manaus apresenta desafios adicionais para a instalação das redes. “Além das redes coletoras, precisamos de estações elevatórias que utilizam bombas para transportar o esgoto até as estações de tratamento”, explica Meireles.
Na ETE Timbiras, que atende a Cidade Nova, o processo de adesão está em andamento. A estação, que tem capacidade para tratar 230 litros de esgoto por segundo, atualmente processa cerca de 4,5 milhões de litros diariamente, devido à necessidade de expandir a rede coletora e interligar mais residências.
“Estamos conectando várias ruas, já que a Cidade Nova continua a crescer e é hoje o maior bairro de Manaus.”, destacou o coordenador.
O Processo de tratamento
O esgotamento sanitário é um processo fundamental para garantir que a água contaminada, proveniente das residências, seja devolvida ao meio ambiente de forma segura e sem riscos à saúde pública.
A primeira etapa do processo é a recepção do esgoto doméstico, que chega contaminado com resíduos sólidos.
“O esgoto passa pelo tratamento preliminar, onde são retirados os sólidos grosseiros como madeira, lixo e plásticos”, comentou Meireles.
O esgoto é então filtrado através de um gradeamento, uma espécie de peneira que separa esses resíduos maiores. Em seguida, passa por um tratamento automatizado que utiliza peneiras rotativas, raspadores de superfície para remoção de gordura e um sistema de separação de areia.
Atualmente, a estação recebe entre 50 e 70 litros de esgoto por segundo, mas foi projetada para uma capacidade de 230 litros por segundo.
“A estação tem capacidade para tratar 20 milhões de litros de esgoto por dia, mas, por enquanto, processa cerca de 4,5 milhões de litros diariamente”, explicou Meireles, destacando que a baixa utilização se deve à falta de expansão da rede coletora e da interligação das residências.
Após o tratamento preliminar, o esgoto passa pelo tratamento biológico, onde oxigênio é injetado para estimular a decomposição da matéria orgânica.
“Esse processo ajuda a oxidar a matéria orgânica e eliminar as bactérias anaeróbias que geram mau cheiro, promovendo um tratamento mais eficiente e sem desconforto para a população”, compartilhou o coordenador.
Decantação
Na etapa de decantação, o esgoto é levado a grandes tanques, chamados lagoas, onde os sólidos mais pesados se depositam no fundo, enquanto a água clarificada segue para o próximo estágio.
“Temos duas lagoas de decantação, e o objetivo é permitir que o foco biológico se assente, deixando a água mais limpa por cima, que segue para o tratamento terciário”, detalhou Meireles.
O tratamento biológico continua com o uso de microrganismos que decompõem a matéria orgânica restante. O lodo ativado é um processo biológico aeróbio que consome poluentes orgânicos biodegradáveis, reduzindo a carga poluente de forma natural.
Após essa fase, o esgoto passa por uma segunda decantação, removendo os sólidos remanescentes e deixando a água ainda mais limpa.
Última etapa e retorno a natureza
A última etapa do processo é a desinfecção, onde agentes químicos, como o cloro, são aplicados para eliminar microrganismos patogênicos.
“Utilizamos cloreto de sódio, semelhante à água sanitária, mas em concentrações diferentes, para garantir que a água esteja livre de patógenos antes de ser devolvida ao meio ambiente”, concluiu o coordenador da concessionária.
Com a expansão da rede e a adesão ao sistema de esgoto, a capacidade total das estações poderá ser utilizada, beneficiando a população e os recursos naturais.
Após todo o processo, a água é devolvida ao meio ambiente por meio do Igarapé do Goiabinha, que passa por trás da estação de tratamento.
Com isso, Thiago ressalta que o tratamento de esgoto garante um ambiente mais limpo e saudável, mas que a participação da população é fundamental, pois a adesão da rede de tratamento ainda sofre uma resistência por parte dos moradores.
“Cuidar do que descartamos, tanto na rede de esgoto quanto na drenagem, é um dever de cada cidadão. Com atitudes simples, podemos evitar grandes problemas.”, concluiu Meireles.
Benefícios
Segundo Semy Ferraz, gerente de Responsabilidade Social da Águas de Manaus, a coleta e o esgotamento sanitário esgoto desempenham um papel central na recuperação dos corpos hídricos da cidade, atualmente contaminados e poluídos.
Sendo o sistema de tratamento de esgoto essencial para a qualidade de vida em Manaus, oferecendo benefícios ambientais e econômicos.
“A partir do momento que a gente coleta o esgoto, faz as redes e estações de tratamento, conseguimos eliminar o lançamento inadequado e, consequentemente, despoluir os igarapés”, destacou Ferraz.
De acordo com o gerente, a longo prazo, esse processo traz melhorias significativas, especialmente na economia. Ele observa que a despoluição dos rios tem o potencial de atrair mais turistas, o que geraria emprego e renda para a população.
“A melhoria da qualidade de vida está diretamente relacionada ao custo da saúde. Com nossos indicadores melhorando, estimulamos a presença do turismo, que gera emprego e renda”, explica.
Ferraz também ressalta que a saúde pública é diretamente impactada pelo saneamento. O gerente mencionou a comprovação da Organização Mundial da Saúde de que, para cada real investido em saneamento, economiza-se quatro reais em saúde.
Consequentemente, há diversos reflexos para além da economia, como a redução da mortalidade infantil e no aumento da longevidade.
Segundo Ferraz, a população de Manaus também pode contribuir para o sucesso desse trabalho ao realizar as conexões de esgoto corretamente.
“A população acompanha esse trabalho fazendo sua parte, que é realizar as ligações domiciliares e utilizando o sistema de forma adequada”, finalizou o gerente de Responsabilidade Social da Águas de Manaus.