Júlio Gadelha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Moura, pressionou integrantes do Ministério da Cultura (MinC) para que os Comitês de Cultura, criados na gestão do presidente Lula e da ministra Margareth Menezes, fossem mobilizados a seu favor na eleição municipal de 2024, conforme revelou o Estadão nesta segunda-feira, 10/3.
Anne contava com maior engajamento do governo federal em sua campanha para vereadora de Manaus. Derrotada nas urnas, ela recebeu R$ 428,4 mil do PT e obteve 2.399 votos.
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A declaração mais emblemática da petista foi feita em setembro de 2023, em uma reunião com Marcos Rodrigues, então chefe do comitê do Amazonas.
No encontro gravado, Anne criticou a falta de empenho do comitê em sua campanha e afirmou que “quem foi para a frente da prisão” deveria ter atendimento diferenciado. Além disso, cobrou maior articulação da pasta para que as atividades dos comitês beneficiassem aliados políticos.
Na gravação, Anne Moura relata que levou suas queixas diretamente ao secretário-executivo do MinC, Márcio Tavares, e à secretária do Programa Nacional de Comitês de Cultura (PNCC), Roberta Martins, ambas figuras de peso dentro da estrutura petista.
“Quando fui lá no MinC, da última vez, o pessoal me perguntou: ‘Anne, o comitê tá te ajudando?’ Eu disse: não, Roberta, não tá. Ela estava na sede do PT e perguntou: ‘o comitê tá te ajudando? Porque nos outros lugares está tudo ajudando’”, relatou Anne.
O PNCC (Plano Nacional de Cômites de Cultura) foi criado em setembro de 2023 com um orçamento de R$ 58,8 milhões até o final deste ano. Como mostrou a reportagem, o programa distribui recursos para entidades culturais selecionadas para coordenar ações nos Estados.
No Amazonas, a responsabilidade ficou com o Instituto de Articulação de Juventude da Amazônia (Iaja), ONG fundada por Anne Moura e que recebeu R$ 1,9 milhão para gerir o comitê.
Na conversa com Rodrigues, Anne afirmou que a escolha do Iaja ocorreu por sua própria influência política. “Eu quero que você fale para eles lá. Porque as pessoas estão o tempo todo dizendo que não foi [por minha indicação]”, disse.
O Ministério da Cultura negou que Anne Moura tenha tido qualquer interferência na escolha da ONG e classificou como inverídicas as alegações de que servidores da pasta estariam envolvidos em atividades eleitorais.
Também ressaltou que os comitês de cultura são instruídos a manter total isenção em processos políticos e informou que o comitê do Amazonas teve atividades suspensas e recursos bloqueados temporariamente para apuração de possíveis irregularidade diante das denúncias.
Em nota, Anne Moura afirmou que os questionamentos dela à atuação do ex-presidente da entidade cultural “podem estar sendo reproduzidos fora de seu contexto” e que o ex-aliado tenta macular a imagem dela.