Lauris Rocha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A Capitania dos Portos de Porto Velho emitiu, no último domingo, 11/7, a Portaria (Nº 51/CFPV) que proíbe a navegação à noite no trecho Porto Velho (RO) e Novo Aripuanã (AM), por razões de segurança devido à seca na calha do rio Madeira neste trecho que começa a apresentar bancos de areias.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com o pesquisador colaborador do Laboratório de Modelagem do Sistema Climático Terrestre da UEA, Leonardo Vergasta, e a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Andrea Ramos, para saber sobre o monitoramento da situação climática na região Norte do país, em especial, no Sul do Amazonas.
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Segundo Leonardo Vergasta, desde o segundo semestre de 2023, o Laboratório da Universidade do Estado do Amazonas (Labclim/UEA) monitora as principais sub-bacias da Amazônia realizando previsões sazonais trimestrais de chuva, temperatura e níveis (cota) para a bacia do rio Madeira. “Atualmente (16/07/24), a cota registrada em Porto Velho (RO) é de 3,46, e em Humaitá (AM) é de 11,12 m”, afirma o pesquisador.
“Em ambas as localidades, os níveis estão muito abaixo do esperado para esta época do ano. De fato, a bacia do Madeira já enfrenta uma seca intensa. Algo que havia sido alertado previamente sobre a possibilidade de níveis baixos nessas localidades pelo Labclim, há três meses”, explica o meteorologista.
As previsões para os meses de julho, agosto e setembro elaboradas pelo (Labclim/UEA), são que as chuvas na bacia do rio Madeira ficarão abaixo da média, enquanto as temperaturas ficarão acima do esperado.
Em relação aos níveis (cota) nas localidades de Porto Velho (RO), Humaitá (AM) e Manicoré (AM), os níveis continuarão descendo nos meses de julho e agosto, podendo haver pequenas subidas em seus níveis a partir de setembro.
“No entanto, os níveis permanecerão muito abaixo do esperado para o período, comprometendo diversos serviços e atividades nesta região, como a navegação, pesca, transporte de cargas e alimentos, abastecimento de água potável, entre outros”, explica Leonardo Vergasta.
Prognóstico climático
De acordo com a meteorologista Andrea Ramos (Inmet), em entrevista ao riosdenoticias.com.br, o mapa do prognóstico climático para todo o país, indica em vermelho e amarelo que as chuvas vão ficar abaixo da média e está relacionado com a diferença entre a previsão da chuva prevista.
“Amarelo significa que as chuvas vão ficar abaixo da média. Em branco, vão ficar dentro da normalidade [se espera chuva nesse mês de acordo com o que a climatologia indica] e de roxo para azul são as chuvas que vão ficar acima da média”, explica.
“A região Norte não tem definição das quatro estações: primavera, verão, outono e inverno. Então, nesse momento na região com um período menos chuvoso, por este mapa visivelmente no Amazonas, observa-se a tendência das chuvas ficarem abaixo da média [amarelo] e nessa parte branca, significa que as chuvas vão ficar dentro da normalidade”, ressalta a meteorologista do Inmet.
De acordo com a especialista, não significa que não chova, mas será menor. “A gente está num período menos chuvoso. Então a climatologia é baixa. Vemos no El Niño [fenômeno climático natural descrito como o aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico na sua porção equatorial], um sinal na região Norte que diminui as chuvas abaixo da média e reflete justamente nessa situação”, explica
Monitoramento desde 2023
De acordo com Leonardo Vergasta, em 2023, a bacia Amazônica enfrentou a maior seca, onde os níveis de água no porto de Manaus atingiram seu menor nível desde 1902 (12,70 m). Está seca histórica esteve associada a dois fenômenos acoplados (oceânico – atmosférico), o fenômeno El Niño e o aquecimento anômalo do Atlântico Tropical Norte.
“Na época, as atuações desses dois fenômenos resultaram em déficits (redução) de chuva e recordes de temperatura em toda a bacia Amazônica. O período chuvoso na bacia Amazônica (de novembro a abril) que iniciou com atraso de um mês. Além do atraso na estação chuvosa, a atuação do El niño ( terminou em maio) e do aquecimento anômalo do Atlântico Norte (continua atuando) continuaram resultando em chuvas abaixo da normalidade em quase toda a bacia”, explica o pesquisador.
Para Leonardo Vergasta esses fatores foram determinantes para que os níveis dos rios amazônicos, especialmente na porção Sul (Rio Acre, Rio Purus e Rio Madeira), não conseguissem normalizar os seus níveis.