Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Em um artigo recente, o empresário, Bill Gates, destacou o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil como uma referência mundial, elogiando sua complexidade e alcance. O criador do Windows, em seu texto intitulado “Lições de salvamento de vidas do Brasil” e publicado na última terça-feira, 12/12, expressou admiração pela capacidade do país em atender a população, ressaltando a importância de investimentos estratégicos na saúde pública.
O magnata, enfatizou que, embora o sistema de saúde brasileiro não seja perfeito e tenha enfrentado desafios financeiros, serve como prova do impacto positivo quando um país prioriza o cuidado com seus cidadãos. “Eles são creditados com o corte de mortalidade infantil e empurrando cobertura de imunização a níveis quase universais”.
“Se o país continuar nesse caminho e continuar fazendo o que já fez bem, e se outros países seguirem – ou simplesmente traçarem seus próprios caminhos com o Brasil em mente – também teremos um mundo mais saudável”, completou o empresário.
A posição de Bill Gates gerou discussão e o Portal RIOS DE NOTÍCIAS conversou com especialistas para abordar o sistema de saúde do país e as diferenças com outros países.
O técnico de enfermagem, Wesley Bruce, apontou as desigualdades geradas pelo sistema privado e complexo dos EUA. Ele destacou o contraste com o SUS, ressaltando que “aqui no Brasil o SUS abrande diversos atendimentos, enquanto nos outros países é tudo pago, tudo comprado”. Bruce comparou os altos custos dos planos de saúde nos EUA, que podem chegar a R$ 1.968,00 a R$ 2.952,00 por mês, com a acessibilidade proporcionada pelo SUS.
“O que eu posso dizer é que é um ponto forte do SUS é esse acolhimento, essa universalidade que ele tem. E assim, quanto aos outros países, tem, por exemplo, os Estados Unidos, onde todo o serviço é pago, pelo menos um transporte é duzentos dólares a mil. Os valores dos planos de saúde nos Estados Unidos são muito caros, e dependendo do tipo de plano pode custar cerca de US$ 400 a US$ 600 por mês, o individual”.
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O analista político, Diogo da Luz concorda com Bill Gates e cita o exemplo da Argentina que atrai até mesmo estrangeiros em busca de cuidados médicos.
“Em princípio eu concordo com o Bill Gates e considero que a Argentina tem um programa bem razoável também, tanto que, não raro, chilenos que hoje são até mais ricos, cruzam a fronteira em busca de atenção médica”, disse.
SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil destaca-se como um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública global, oferecendo desde simples atendimentos até procedimentos complexos como transplantes de órgãos. O SUS se tornou importante ao garantir acesso integral, universal e gratuito a serviços de saúde para toda a população do país.
Com sua criação, em 1990, o SUS revolucionou o cenário da saúde pública no Brasil, com mais de 190 milhões de pessoas atendidas por ano. O Ministério da Saúde destaca que o SUS não se limita aos cuidados assistenciais, mas abraça uma abordagem integral à saúde para todos os brasileiros desde a gestação até o final da vida.
A avaliação do SUS no Brasil é tema de diferentes perspectivas sobre seu funcionamento. Enquanto o técnico de enfermagem Wesley Bruce destaca os aspectos positivos, como a capacidade de acolhimento para doenças complexas, ele não hesita em apontar a falta de estrutura como um desafio.
“O SUS é bom em muitos aspectos porque, por exemplo, ele consegue acolher pessoas que têm comprometimento graves, doenças complexas e ele consegue oferecer o tratamento pra essas pessoas, além de também ter várias abordagens pra pessoas com problemas de saúde mais específicos, apesar da falta de estrutura”, compartilha Bruce.
Já Diogo da Luz traz à tona outras preocupações. Ele destaca dois problemas percebidos no sistema de saúde brasileiro:
“O desperdício de recursos em boa parte pela crônica corrupção e o fato de se propor a ser absolutamente universal, ou seja, promete tratar todo e qualquer mal. Com isso, a ANVISA retarda a aprovação de alguns medicamentos e até tratamentos por serem caríssimos e insustentáveis, mas, se o paciente for à justiça, ele ganha o direito, mesmo quando se sabe que a perspectiva de cura beire o zero“, destaca o analista.
Problemáticas
A falta e o desperdício desses recursos são problemas reforçados por ambos os entrevistados. O técnico de enfermagem, destaca a persistente carência de recursos como uma barreira enfrentada pelos profissionais de saúde.
“Uma das dificuldades que a gente enfrenta é a falta de recursos, que é uma coisa que precisa melhorar. A gente como profissional vive se reinventando por causa das condições que a gente trabalha e vive. Damos o jeito para manter todos os equipamentos, a gente substitui e se vira. A gente monta alguma coisa ali e faz outra coisa aqui, sabe? A gambiarra, por exemplo, é uma coisa constante no serviço hospitalar“, ressalta Bruce.
Diogo da Luz acrescenta uma perspectiva adicional, sugerindo que uma maior ênfase na saúde básica e preventiva poderia trazer melhorias substanciais na qualidade de vida da população.
“No meu entender, se o esforço fosse concentrado na saúde básica, preventiva e intervenções convencionais, provavelmente nós teríamos um aumento ainda maior na qualidade de vida. Mas ainda focamos até em transplantes caríssimos, com riscos grandes. Por sinal, o Brasil é um dos grandes expoentes em quantidade de transplantes”, argumenta Da Luz.
Essas diferentes perspectivas destacam a complexidade do desafio que é oferecer um sistema de saúde eficiente e equitativo. Enquanto alguns elogiam a capacidade de resposta a casos complexos, outros apontam para questões sistêmicas profundas que precisam ser abordadas para otimizar o funcionamento do SUS.