Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Tayná Saterê e Romahs Mascarenhas, dois talentosos artistas amazonenses, terão suas obras expostas no evento cultural “Batidão Tropix – L’Amazoine on Air”, que será realizado no próximo sábado, 15/6, em Marseille, no sul da França. O evento ocorrerá no Friche la Belle de Mai, um enorme espaço cultural na Europa, conhecido por sua importância e visibilidade.
A produtora cultural brasileira Trópix, composta por cinco brasileiros, incluindo Larissa Rufino e Beatriz Mascarenhas, ambas de Manaus, organiza o evento.
A Trópix promove o trabalho de artistas brasileiros que residem dentro e fora da França, oferecendo uma perspectiva contemporânea, longe dos estereótipos, da brasilidade através de diversas expressões artísticas como arte, música, literatura, cinema e teatro.
“Nesta vida de imigrante, começamos a querer nos aproximar da nossa cultura. Aqui em Marseille, nossa associação foi ganhando espaço dentro do território e credibilidade dentro da cidade. Mas eu e a Beatriz começamos a ter uma inquietação, porque os artistas que estávamos produzindo eram todos do eixo Sudeste e Nordeste. Foi quando resolvemos encabeçar um evento que evidenciasse a nossa gente, nossa cultura e nossos artistas”, explicou.
Exposições
Tayná Saterê, fotógrafa do município de Barreirinha, a 330 quilômetros de Manaus, é uma das artistas que apresentará uma exposição focada na infância ribeirinha.
Outro é o cartunista parintinense Romahs Mascarenhas exibirá sua exposição intitulada Paris des Tropiques (Paris dos Trópicos).
“Eu pensei numa temática que ligasse a nossa Amazônia com a França e conectei com o Ciclo da Borracha, momento histórico em que tivemos uma grande influência da arquitetura e da cultura europeia, em especial de Paris, na virada do século 19 para o século 20. Com toda a riqueza que o período gerava foi possível construir uma Manaus urbana muito parecida com as grandes cidades europeias”, esclareceu.
Ele, que também é roteirista da Turma da Mônica, faz um contraponto entre a arquitetura influenciada pela França e a Manaus contemporânea, que liga a Amazônia e a França através do Ciclo da Borracha.
“Paris dos Trópicos é uma alcunha que Manaus tem e, para a exposição, vou aplicar meu traço mais cartunesco, que é o meu favorito, com imagens em preto e branco. Serão panorâmicas da cidade de Manaus que conversam com a rotina manauara e a arquitetura predominantemente francesa”, esclarece.
“E tem uma coisa muito interessante na minha exposição: habitando nesse cenário, temos nossos personagens tropicais, da nossa cultura multifacetada com várias influências. São imigrantes, pedintes, vendedores de rua, feirantes e, além disso, o calor interferindo na nossa forma de se vestir. Então, eu pensei que ficaria bem exótico para o francês mostrar a arquitetura do centro de Manaus com os nossos personagens que não são comuns para a cultura deles lá”, acrescentou.
O evento também contará com performances de dois DJs de Belém do Pará, Yarà e Marara Kelly, além de apresentar a culinária e música nortista.
“Temos produzido artistas brasileiros na França frequentemente, mas este sábado será especial, pois será a primeira vez que destacaremos a cultura amazônida”, vibrou a produtora Larissa Rufino.
Larissa relatou as dificuldades enfrentadas para realizar o evento, destacando a falta de apoio do Brasil, mas reconheceu a importância de promover a cultura amazônica.
“A associação foi ganhando espaço na França, mas sentíamos a necessidade de evidenciar nossos artistas amazônidas. Enfrentamos muitas dificuldades, mas conseguimos esse espaço cultural de renome na Europa”, afirmou.
Cultura como instrumento de sensibilização
Beatriz Mascarenhas, produtora, roteirista, poeta e dramaturga, destacou a importância de realizar o evento na Friche la Belle de Mai. É um dos maiores espaços culturais da França. Os eventos ocorrem sempre no verão, no terraço, que é um grande espaço ao ar livre. Colocamos um palco, fazemos exposições, apresentações, DJs, entre outras atividades. É um espaço de muita visibilidade, por isso é mais difícil conseguir essa parceria. Mas nós conseguimos”, comemorou.
Este é o segundo ano consecutivo que a Trópix consegue realizar um evento no local. “No ano passado, fizemos o Baile Funk. Este ano, estamos realizando um evento temático sobre a Amazônia. Era algo que queríamos fazer há muito tempo e representa uma grande conquista”, enfatizou.
Beatriz explicou que, quando a proposta foi apresentada, os organizadores do espaço gostaram muito da ideia e aceitaram prontamente. “Falar da Amazônia é sempre muito importante, especialmente nas discussões atuais sobre preservação, cultura e as distâncias geográficas e xenofóbicas que enfrentamos, tanto do Brasil para o mundo quanto da Amazônia para outras partes do Brasil”, ressaltou.
Para Beatriz, conseguir levar a Amazônia brasileira para Marseille, em um espaço tão significativo, é de extrema importância. “Estamos muito empolgados, a expectativa é muito grande. Esperamos um público de mil e quinhentas pessoas e que todos os ingressos sejam vendidos. Será um dia muito bonito, e espero que tenha uma grande visibilidade para os artistas e para todos que participarem do evento”, disse.