Gabriel Lopes – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O tráfico internacional de drogas tem encontrado nos rios do estado do Amazonas suas principais rotas para a entrada e o transporte de entorpecentes na região, intensificando a violência nas comunidades locais.
De acordo com o estudo “Aterrizando na Água: Interdição Aérea, Tráfico de Drogas e Violência na Amazônia Brasileira”, a política de interdição aérea implementada no Brasil em 2004 forçou a migração das rotas do tráfico dos céus para os rios da Amazônia.
Os dados, divulgados pelo projeto Amazônia 2030, mostram que a restrição do tráfego aéreo está diretamente associada ao aumento de 1.430 homicídios em comunidades ribeirinhas entre 2005 e 2020. A pesquisa foi conduzida pelos especialistas Leila Pereira, Rafael Pucci e Rodrigo R. Soares.
Com a maior dificuldade de transportar cocaína por via aérea, os traficantes passaram a utilizar as hidrovias, o que expôs as populações ribeirinhas ao crime organizado. Além do crescimento nos índices de violência, o aumento no número de mortes por overdose indica a maior disponibilidade da droga nos municípios afetados.
A mudança na logística de movimentação dos entorpecentes foi responsável por 27% das 5.337 mortes registradas entre 2005 e 2020 em 67 cidades da região Oeste da Amazônia. A maioria das vítimas era formada por homens entre 20 e 49 anos, mortos por armas de fogo ou facas.
Ausência de fiscalização agrava o problema
Em entrevista ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, a especialista em segurança pública Goreth Campos Rubim explicou que, nos últimos anos, as rotas fluviais da Amazônia se consolidaram como o principal meio de transporte de drogas devido à falta de fiscalização nas embarcações e portos dos municípios do interior.
“A ausência de fiscalização permite que os traficantes transportem drogas ilícitas misturadas às bagagens de passageiros ou junto às encomendas, facilitando a distribuição e fortalecendo o mercado do tráfico”, destacou Goreth.
Segundo o estudo, a migração do tráfico para as hidrovias trouxe desafios adicionais para as forças de segurança e impactou diretamente as comunidades locais. Foram identificados 16 rios que funcionam como potenciais rotas para o tráfico de cocaína na Amazônia:
São eles: Abuna; Acre; Caquetá; Envira; Içá; Japurá; Javari; Juruá; Madeira; Amazonas; Negro; Purus; Tarauacá; Uapés; Mamoré; e Xiê. O estudo destaca a necessidade de uma abordagem mais integrada no combate ao tráfico e ressalta a importância de se formular políticas públicas.
Diante desse cenário, o estudo reforça a necessidade de uma abordagem mais integrada no combate ao tráfico de drogas e destaca a urgência na formulação de políticas públicas eficazes para conter a criminalidade na região.
A REPORTAGEM entrou em contato com a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) para obter informações sobre as ações que estão sendo tomadas para combater o tráfico fluvial, mas, até o momento, não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.