Júnior Almeida – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – Dubladores brasileiros se unem em um movimento intitulado “Dublagem Viva”, para protestar a substituição das vozes reais por áudios criados com inteligência artificial em filmes, desenhos, animes, novelas, séries e outras produções. Nas redes sociais, os profissionais destacam ser a favor da regularização do recurso, mas temem serem substituídos por IA.
O movimento dos profissionais já possui mais de 75 mil assinaturas a favor da regularização da inteligência artificial, e conta com apoio de organizações internacionais em favor da discussão. Porém, a preocupação do setor é em relação a substituição dos artistas vocais, que podem vir a ser sucedidos por sistemas capazes de imitar vozes reais, a partir de padrões de voz identificados em registros disponíveis pela internet.
O site da campanha destaca que “a inteligência artificial generativa, não passa de uma acumuladora e catalogadora de informação e maneirismos, e hoje avança a passos largos em direção a uma ruptura social“.
O movimento salienta que, mesmo os brasileiros consumindo produtos culturais de diversos países, ainda colocamos nossas características nas adaptações, versões e traduções de livros, músicas, séries, filmes, jogos e peças teatrais, em dublagens nacionais.
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O diretor de dublagem Wendel Bezerra, destaca a singularidade da dublagem brasileira pela sua forma de comunicar e adaptar a emoção para o público.
Não se trata apenas de copiar, imitar. A emoção que toca um coreano, ela é diferente da emoção que toca um brasileiro na sua forma de comunicar. A dublagem brasileira é conhecida como uma das melhores do mundo especialmente por essa questão de sabermos adaptar um personagem, salienta Wendel Bezerra.
Wendel Bezerra explica que o famoso anúncio antes de filmes dublados em língua portuguesa, mais conhecido como “versão brasileira”, tem enorme significado. “Por isso que se chama versão brasileira, não é tradução brasileira, não é transcrição, é versão! pois para verter algo, é preciso ter alma, sensibilidade, saber comunicar” orienta.
Para o dublador Guilherme Briggs, é necessário haver um controle sob a inteligência artificial ou uma fatia enorme do mercado artístico será impactado diretamente com a expansão das IAs no audiovisual.
Tem que ter algum controle porque senão ela vai tirar o trabalho de desenhistas, animadores, dubladores, cantores, artistas em geral, disse.
O dublador ainda relacionou as comidas processadas como fast food e o alimento caseiro na problemática que atinge o mercado da dublagem.
“A gente não vai querer ficar comendo só comida processada, e a inteligência artificial acaba sendo isso, eu acho desgostoso. A dublagem é tipo comida caseira, é feita com arte, com artistas”, frisou.
O ator e dublador Luiz Feier Motta diz ser a favor da inteligência artificial, porém argumenta ser totalmente contrário ao desemprego que a tecnologia possa causar no mercado artístico, “é um tiro no pé”, alerta.
Eu sou a favor da inteligência artificial que facilite a sua vida, que agregue em algo. Mas, se gera desemprego eu sou totalmente contra, é um tiro no pé e futuramente pagaremos essa conta. É preciso impor limites agora ou será o começo do fim, salienta.
Uso consciente da IA
Ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, o designer e locutor Markus Santos falou das vantagens e desvantagens no uso da inteligência artificial em sua área. De acordo com ele, entender a ferramenta é o primeiro passo para saber usá-la e tirar o melhor proveito da inteligência.
Eu uso a inteligência artificial na minha área e posso dizer que ela tem ajudado, sim. É uma grande aliada. Porém, é preciso saber usar. Antes de 2022 eu usava um pacote de softwares para designers e levava cerca de cinco minutos para executar meu trabalho. Hoje, com a IA, esse tempo é reduzido para segundos. Ela realmente otimiza o nosso trabalho, avalia.
“Enquanto artista e designer, eu penso que daqui a algum tempo vai ser complicado a substituição da mão de obra humana por inteligência artificial, porque elas não têm o conceito como a gente tem”, comentou Markus Santos. Contudo, o designer disse ser contra o uso da IA na área de dublagem.
“Eu sou totalmente contra o uso da voz artificial no ramo da dublagem. A dublagem por IA não vai atingir o mesmo resultado que um artista vocal consegue atingir. Eu suponho que a inteligência só traduza a fala de algum ator, mas nunca traduzirá a emoção, as expressões do nosso país, que apenas nós seres humanos de nacionalidade e cultura conseguimos aplicar com perfeição” defendeu.