Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A Polícia Federal, em colaboração com a Polícia Científica do Pará, deu início aos trabalhos de identificação dos corpos descobertos em uma embarcação à deriva na região de Bragança (PA), encontrado por pescadores no último sábado, 13/4.
O objetivo é chegar na identidade das vítimas seguindo os protocolos internacionais de identificação de desastres da Interpol (DVI). Os peritos também buscam determinar a origem dos passageiros, a causa e o tempo estimado das mortes.
Ao contrário do que foi noticiado no sábado, informando 20 corpos em estado de decomposição, a PF confirmou a quantidade exata. Nove corpos foram localizados, oito dentro da barco e um próximo a ela, dando sinais de que fazia parte do mesmo grupo de vítimas.
Documentos e objetos achados junto aos corpos sugerem que as vítimas eram migrantes africanos, possivelmente originários da região da Mauritânia e Mali, a 4.600 quilômetros do Pará.
Em resposta ao Portal RIOS DE NOTÍCIAS, o consulado da Mauritânia em Brasília afirmou que a migração de países africanos para a Europa ou para o Brasil é comum, devido às condições econômicas adversas dessas nações.
“Essa migração de países africanos para a Europa ou para cá é muito comum. Realmente fica mais perto pelo Mediterrâneo. Mauritânia é um país que não é muito rico. Tem muita classe pobre do que média e rica”, explicou Mona Alaoui, do Consulado.
Um nativo da Mauritânia, que não quis se identificar, relatou que o grupo partiu em direção à Europa, mas se perdeu no mar, acabando por chegar ao Brasil sem mantimentos, o que levou à morte de todos.
“O país não enfrenta nenhum problema de guerra ou política. Eles iam para a Europa e se perderam no mar e acabaram chegando aqui sem comer, sem nada. Acabaram morrendo todos”, explicou.
Dura realidade
A Mauritânia e o Mali, países africanos vizinhos, compartilham uma triste realidade marcada por indicadores sociais alarmantes. Com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de apenas 0,433, a Mauritânia enfrenta desafios significativos, incluindo uma elevada taxa de mortalidade infantil, atingindo 72 mortes a cada mil nascidos vivos. O analfabetismo afeta cerca de 44% da população, evidenciando uma grave lacuna na educação.
IDH de um país varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano total). Um índice até 0,499 significa um baixo desenvolvimento humano. De 0,5 a 0,799 representa um desenvolvimento médio e, quando ultrapassa 0,8, o desenvolvimento é considerado alto.
Já o Mali, com um IDH ainda mais baixo, registrado em 0,309, figura entre os dez piores no ranking mundial. A expectativa de vida é de apenas 53 anos, e a taxa de mortalidade infantil é uma das mais altas do mundo, com 104 mortes a cada mil nascidos vivos. Além disso, o analfabetismo afeta 74% da população, refletindo um desafio significativo no acesso à educação básica.
A situação econômica também é delicada. Na Mauritânia, o deserto do Saara cobre mais de 65% do território, dificultando a agricultura e limitando as opções econômicas. Embora a extração de minério de ferro seja uma atividade importante, a economia enfrenta desafios significativos.
No Mali, a agricultura é a principal fonte de emprego, com participação de aproximadamente 70% da população. No entanto, a desertificação tem prejudicado gravemente a produção agrícola, afetando a segurança alimentar e a estabilidade econômica.
Esses países enfrentam uma série de problemas socioeconômicos, incluindo acesso limitado a serviços básicos, como água potável e saneamento. O alto índice de subnutrição e a falta de acesso a cuidados médicos adequados também contribuem para a crise humanitária nessas nações.
Entenda
Um pequeno barco à deriva foi descoberto por pescadores locais no último sábado, com corpos em avançado estado de decomposição. A informação foi confirmada pelo delegado Alexandre Calvinho, da Delegacia Seccional Urbana de Bragança. O local do achado foi em Quatipuru, entre os municípios de Tracuateua e Bragança, no estado do Pará.
Inicialmente confundido com um barco pesqueiro comum, os pescadores, ao se aproximarem, perceberam a dimensão da tragédia. A princípio, suspeitava-se que os corpos fossem de refugiados haitianos. O barco foi rebocado para a praia de Ajuruteua, onde o Instituto Médico Legal (IML) e o Corpo de Bombeiros atuaram.
Os corpos estavam em avançado estado de decomposição e sugere que as mortes possam ter ocorrido há algum tempo.