Vívian Oliveira – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), revelou, em entrevista coletiva na segunda-feira, 28/8, que o Estado possui o potencial de suprir até 25% da demanda nacional de potássio por três décadas. O político ressaltou que a capacidade poderia ser vital para o agronegócio brasileiro.
“A mina que nós temos aqui no município de Autazes tem capacidade para fornecer 25% do potássio utilizado no agronegócio brasileiro durante 30 anos”
Wilson Lima, governador do Amazonas
Atualmente, o Brasil importa cerca de 95% do potássio que consome. Segundo o governador, a exploração do potássio se revela como uma oportunidade econômica, encurtando distâncias logísticas e possibilitando maior competitividade.
“No momento em que essa operação começar no município de Autazes, teremos um produto com maior competitividade por conta da logística. A balsa que traz a soja do Mato Grosso pode muito bem voltar com o potássio, encurtando a distância do potássio que vem, por exemplo, da Rússia, do Canadá, da Bielorrússia ou de outras regiões brasileiras”, explicou Lima.
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Contudo, essa possibilidade enfrenta obstáculos. O Ministério Público Federal do Amazonas (MPF-AM) solicitou à Justiça Federal a suspensão de qualquer ato de licenciamento para a exploração de potássio na região.
Isso se deve ao fato de que a região onde se pretende realizar a exploração, denominada Soares/Urucurituba, é objeto de reivindicação indígena pela etnia Mura. A Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) recomendou ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) a suspensão do licenciamento até que se avalie a demarcação do território indígena.
“Mas, como fica a situação do povo do Amazonas? Não podemos, sob um discurso de proteção, colocar a nossa população de joelho. A gente também precisa ter a oportunidade de desenvolver, de gerar renda e dar oportunidade para as pessoas que moram aqui. E não tem outro caminho. Não dá para proteger a floresta, os povos originários, quilombolas e outras populações tradicionais com pobreza”
Wilson Lima, governador do Amazonas
Em uma postagem nas redes sociais, o governador se manifestou contra a suspensão do processo de licenciamento para a exploração de potássio em Autazes. Ele argumentou que a proteção da floresta precisa ser balanceada com a geração de emprego e renda para os habitantes locais. “A decisão de suspender o processo de licenciamento para exploração do potássio é um erro”.
Lima ressaltou que a exploração sustentável pode ser realizada em harmonia com a preservação ambiental, beneficiando tanto a economia quanto as comunidades da região.
Ronney Peixoto, titular da Secretaria de Estado de Energia, Mineração e Gás (SEMIG), também se manifestou em nota nesta quarta-feira, 30/8, e informou que está aguardando os estudos realizados pela Funai sobre a delimitação da Terra Indígena Lago do Soares e Urucurituba. O gestor demonstrou interesse em discutir a questão assim que os estudos forem concluídos.
“A Secretaria de Mineração, Gás e Energia informa que, no início do mês de agosto, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), criou um Grupo Técnico, com o objetivo de realizar estudos para delimitação da Terra Indígena Lago do Soares e Urucurituba, reivindicada por indígenas pertencentes à etnia Mura. Dessa forma a Semig aguarda conclusão dos estudos para, então, discutir a questão”
Nota da SEMIG
Desenvolvimento em outros municípios
Em sua participação no Jornal da Rios, da Rádio RIOS FM 95,7, desta terça-feira, 29/8, Peixoto discutiu sobre a relevância de áreas no Amazonas e no mundo. Ele destacou a interconexão entre mineração e transição energética, explicando que a mineração é essencial para a obtenção de materiais utilizados na geração de energia limpa, como placas solares e baterias de lítio.

“Para construir placas solares, é necessário ter material. E como você consegue o material? Na mineração. Para a produção de uma bateria de lítio, por exemplo, precisa de mineração, que tem papel importante no processo de transição energética”, explicou.
Peixoto também ressaltou a importância de comunicar os benefícios desses setores à população, exemplificando com o caso da empresa Eneva, que contribuiu para o desenvolvimento de municípios e a redução de emissões de carbono.
Ele enfatizou a necessidade de formação de capital intelectual por meio da colaboração com universidades e centros de ensino para impulsionar o desenvolvimento nas áreas de energia, mineração e gás.
“Silves e Itapiranga são exemplos de crescimento. Pelo fluxo de pessoas e demandas, será necessário construir mais hotéis. Então, se a gente conseguisse, de um certo modo, replicar modelos de desenvolvimento como esse em diversos municípios no Estado. E nós podemos, temos capacidade, temos algumas vocações naturais de alguns produtos”, revelou.
Além disso, o secretário mencionou a necessidade de investigar a questão da distribuição em municípios e como a Companhia de Gás do Amazonas (Cigás) desempenha um papel nesse processo. Ele enfatizou a importância de trazer a expertise da Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti) para a nova pasta e destacou a importância de figuras como Marco Antônio Villela, com vasta experiência na Petrobras.
Peixoto também pontuou a criação do Conselho Estadual de Energia e a importância de envolver universidades e centros de ensino na formação de capital intelectual necessário para o desenvolvimento das áreas de energia, mineração e gás.
“Não dá para ter um cluster de desenvolvimento aqui, se não tiver a formação necessária. Nós temos alguns cursos já de petróleo, energia e gás. Mas precisamos incentivar também as pós-graduações. São possibilidades imensas, e certamente precisamos qualificar, não só do ponto de vista acadêmico, como técnico também, aqueles que vão estar lá mais no dia-a-dia trabalhando”, concluiu.