Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A ameaça anônima enviada no último dia 14 de junho à Embaixada do Brasil em Portugal trouxe a tona uma das grandes dificuldades enfrentadas por brasileiros que vivem no país lusitano: o preconceito.
A ameaça chegou ao embaixador do Brasil, Raimundo Carrero, por meio de um e-mail e acionou autoridades do país. O conteúdo da mensagem continha uma ameaça de natureza terrorista direcionada a brasileiros que residem no país.
Entre as declarações presentes no e-mail estava escrito que “Portugal é uma terra de brancos para brancos” e que não há lugar para “malditos brasileiros”, assim como outros estrangeiros.
A xenofonia se caracteriza pela manifestação de ódio ou aversão contra estrangeiros e afeta várias pessoas ao redor do mundo, incluindo brasileiros que residem em Portugal, que representam o maior grupo de imigrantes no país. Comentários ofensivos, insultos verbais e até mesmo agressões físicas estão entre as problemáticas enfrentadas ainda hoje.
A amazonense Karla Vieira, que reside na cidade de Porto, Norte de Portugal, relata que o preconceito e a discriminação contra brasileiros e pessoas negras não são novidades.
“Tem muita discriminação, a gente percebe nos olhares, no tratamento. Existe essa diferença na maneira em que somos atendidos nos estabelecimentos”
Karla Vieira, fotógrafa amazonense que vive em Porto
Ela lembra do episódio em que sua filha foi alvo de comentários discriminatórios na escola onde estuda. “Uma pessoa da administração falou que outros imigrantes eram mais inteligentes do que nós, brasileiros”.
Esse tipo de comportamento não é novidade e se estende a imigrantes de diversas nacionalidades, que sofrem com atos de xenofobia, enfrentando até mesmo dificuldades de acesso a serviços básicos, como na saúde pública.
As denúncias de xenofobia no país têm aumentado a cada ano. No entanto, muitas pessoas nem sequer registram queixa, pois estão no país para trabalhar ou estudar e temem possíveis represálias.
“Comigo nunca aconteceu, mas já presenciei alguns ataques com agressões e tudo mais. Comigo não chegou a ter agressão, mas já sofri discriminação. Uma vez eu estava no supermercado e a moça do caixa pediu pra que eu abrisse minha bolsa, só tinha minhas roupas e uma garrafinha de água, foi constrangedor”, comentou Karla.
Dados da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial (CICDR) revelaram que, de 2017 a 2022, a xenofobia contra brasileiros em Portugal aumentou 433%. Segundo o órgão, “a expressão que mais se destaca enquanto fundamento na origem da discriminação é a nacionalidade brasileira”.
A discriminação sofrida pelos brasileiros supera as manifestações de racismo e de xenofobia contra outras nacionalidades.
Crime
No Brasil, xenofobia e discriminação são crimes que, além de multa, podem acarretar de um a três anos de reclusão.
Os casos de xenofobia passaram a ser crime a partir do ano de 1997, quando o texto passou a se referir aos “crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
“Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”